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O Negócio do Clima, a Amazónia e os Açores (texto de opinião) - Notícia OVGA 23-09-2019

 

1 – Todas as semanas a internet é inundada pelas mais diversas petições e opiniões climatológicas .Em maioria são catastrofistas e é de aguardar um incremento dessa  facção. É bem mais fácil meter medo do que tomar posições bem pensadas e bem posicionadas. Esta introdução visa chamar a atenção para uma recentíssima  PETIÇÃO SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL  ANTRÓPICO ,assinada por 92 cientistas de renome, alguns do meu relacionamento, consultável,  na “La Nuova Bussola Quotidiana”, um” média” de grande respeitabilidade. E evidencio este facto porque se a actual Universidade dos Açores me condenou , decerto  por vingança e inveja  reitorais,  a ficar sem gabinete e sem acesso  a revistas e contactos que ali estabeleci durante décadas de ensino e de investigação, enganou-se. Fui posto na rua mas no exterior continuo a trabalhar e a estabelecer as ligações, velhas ou novas, que me  garantem manter-me actualizado e opinativo .

2 – A citada e interessante petição, assinada por  diversas personalidades, desde reitores jubilados a consagrados investigadores seniores, pede  que não se adira  à redução acrítica  de emissão de CO2, um gaz essencial à vida  (quando não excessivo, claro). 
Trata-se de um texto para reler diversas vezes e que dá para pensar. Os signatários são entidades que conhecem bem os ciclos geológicos, a importância do sol e da lua na Terra, que trabalham em riscos e em planeamento  e… que também conhecem os grandes negócios do clima  e das alterações  climáticas .

3 – O clima está a mudar? Não é preciso ser especialista (basta obter uma cultura geral e ler o que é devido) para se entender que algo vem mudando. Mas se o tema for bem escalpelizado, decerto se concluirá que o mal não é apenas antrópico, de origem humana.
No caso da minha profissão (geólogo / vulcanólogo) a ilha de Santa Maria é um bom exemplo dessas alterações - subidas e descidas do nível do oceano ao longo de milénios recentes, alterações das rochas em consequência  do tipo de clima envolvente, aglomerados de fósseis provando matanças por bruscas alterações ambientais . 

A ilha de São Miguel  e a ilha Terceira são outros casos  que pouco se estudam  porque o Departamento de Geociências  evaporou-se  , os peritos não vão para o campo, sendo mais cómodo  “ouvir” o que dizem os computadores que tanto encantam os políticos que ali se deslocam. Agora a moda universitária local, além de um curso de protecção civil que vai parindo desempregados todos os anos, é o SIVISA e o   IVAR  estruturas igualzinhas, com os mesmos “habitantes” , e que o povo  na verdade desconhece .Temos, como exemplo recente, a nova fumarola das Furnas  -  oficialmente  nem uma análise mandada aos jornais , nem uma explicação do fenómeno, nada, mesmo nada!

4 – O clima está a mudar porque sempre mudou . Como diz o grupo italiano, que não exista a “ilusória pretensão de governar o clima“ (Julho de 2019, Roma). O que a civilização actual tem feito consiste em interferir com essas mudanças naturais acelerando-as numas regiões e modificando-as noutras .

O clima está a mudar nos Açores ? Claro! Trabalho na geologia das ilhas desde os anos 60. Então eram ilhas amazónicas, algumas luxuriantes . Nas terras altas do Pico e de São Miguel cheirava-se o odor  dos cedros . Agora cheiram as bostas de vaca e os detritos dos turistas baratuchos. Porque a ganância e a ausência de planeamento tomaram conta destas ilhas. Acompanhei as comissões de planeamentos destas ilhas  e tornei-me ambientalista moderado. Recordo-me das lutas para rodear a lagoa do Fogo de decreto pró natura - foi uma luta tenebrosa e venceram, parcialmente, os proteccionismos da velha guarda. Mas creio que  esse  “ élan”  de regresso ao paisagismo original , nossa verdadeira riqueza  - e que nada tem com o fundo dos mares, outro bluff mediático - mais dia menos dia será oncológicamente corrompido . Calculem que em vez de dificultarem o acesso à mítica Lagoa do Fogo os bombeiros querem um barco lá dentro para socorrerem gente imprudente! Para passeatas  em barquinho eléctrico.

5 – Nos Açores as causas ambientais andam mal. Porque só vinga o que é oficial. O que é desastroso, não há diálogo e eu que o diga. Só falta a srª universidade proibir bifes na cantina pois tem um protocolo com a afamada  Coimbra… que não quer vitamina B12  nos seus menus. Os grupos ambientalistas ex-aguerridos  agora  dedicam –se a negócios e não a causas… Estamos tramados como o está a Amazónia.

 

 

Setembro de 2019 

Adenda: Caro Professor Prestininzi – fiz o que prometi, ou seja, divulgar o vosso apelo com o qual  concordo mas não na totalidade . Não se aplica a ilhas perdidas no meio do oceano.

 

 

Fonte: Correio dos Açores (22-09-2019)