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Notícia OVGA 11/04/2017 - O Ártico está a ficar parecido com o Atlântico

Notícia OVGA – 11/04/2017

O Ártico está a ficar parecido com o Atlântico

Glacial de Jakobshavn na Gronelândia©Spencer Weart

 

Que o oceano Árctico está a ficar diferente já não é novidade. O que agora é novo é que a parte leste do Árctico está a ficar cada vez mais parecida com o oceano Atlântico. Ou seja, as camadas de água na bacia euroasiática do Árctico estão a ficar menos densas, permitindo a sua mistura com águas vindas do Atlântico, pelo menos assim é relatado num artigo na revista Science desta sexta-feira.

Na última década, no Árctico houve uma perda recorde de gelo marítimo durante o Verão. E, desde 2011, a bacia euroasiática ficou mesmo quase sem gelo no final do Verão. Agora, a equipa do oceanógrafo Igor Polyakov, do Centro de Investigação Internacional do Árctico (Alasca), fez medições da espessura do gelo nesta região do oceano entre 2013 e 2015 com vários sensores. 

O Árctico prolonga-se por 1800 quilómetros e é separado pela bacia américo-asiática e pela bacia euroasiática. Foi nesta última que os cientistas detectaram o que já tem sido designado por “atlantificação” do Árctico. As águas da parte leste da bacia euroasiática estão a perder a sua forte estratificação, o que torna o aquecimento do Árctico muito mais fácil.

Recuperação de instrumentação científica durante a campanha de estudo do Árctico ©ILONA GOSZCZKO

 

E que factores estão a contribuir para esta “atlantificação” do Árctico? De acordo com Igor Polyakov, há dois factores principais. Primeiro, o facto de haver menos áreas de gelo no oceano, pois há menos produção de gelo no Inverno. “A formação de gelo faz com que a água doce do topo da coluna de água seja extraída para formar o gelo, e o sal remanescente torna essa água à superfície mais densa e pesada do que aquela que está por baixo”, explica o investigador. “Estas águas à superfície têm-se misturado e isso tem-se intensificado nos últimos anos.”

O segundo factor tem a ver com a variação dos níveis de salinidade: a uma profundidade entre os 50 e 150 metros ocorre, geralmente, uma variação brusca na salinidade. Essa faixa é a haloclina. O que agora se está a observar é uma redução na diferença de salinidade, o que facilita a mistura entre as camadas de água e permite que as águas do Atlântico cheguem ao Árctico.

Se a “atlantificação” do Árctico continuar, haverá cada vez menos gelo nesta região. Para minimizar estes efeitos, Igor Polyakov diz ao PÚBLICO que é urgente combater o aquecimento global e reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Mas não será fácil. “Temos vindo a observar estas mudanças [a ‘atlantificação’] há já algum tempo, por isso é difícil fazer algo rapidamente que tenha um efeito imediato.”

Fonte:Publico.pt