Notícia -A A +A

Notícia OVGA – 10/04/2017 Fusão de fogo e gelo no fim do mundo

Em Kamchatka, a lava flui com tamanha velocidade que parece água e remodela a paisagem a cada nova erupção vulcânica.

Uma corrente de lava flui do vulcão Plosky Tolbachik e contorna um novo cone de escórias. FotografiaSergey Gorshkov.

Em termos geológicos, a vida de um ser humano dura apenas um suspiro. E as oportunidades de observar um vulcão em erupção sem perigos excessivos, como explosões violentas, nuvens de gases ou chuvas de cinzas letais são escassas. O vulcão Tolbachik foi uma delas. 
Teria sido uma pena não aproveitar a ocasião, embora a princípio nos parecesse – a mim e aos fotógrafos de história natural Sergey Gorshkov e Vladimir Alekseyev – que a simples proeza de lá chegar era impossível. A única estrada de ligação entre o povoado de Kozyrevsk e o vulcão ficara sepultada sob um rio de lava, pelo que o acesso só era possível de helicóptero. Isto significava que dependíamos por completo das condições meteorológicas e da visibilidade na zona da erupção. Além disso, estávamos em pleno Inverno, um Inverno glaciar com temperaturas de -40°C e corria o boato de que um topógrafo colocado na zona sofrera ferimentos graves nas mãos causados por congelação. Ainda assim, tomámos a decisão de nos pormos em marcha. 

A península de Kamchatka forma, juntamente com o arquipélago das Curilas, um arco insular numa das zonas do planeta com maior actividade sísmica e vulcânica. Situada no extremo oriental da Rússia, faz parte do Anel de Fogo do Pacífico, região onde ocorre a subducção, ou afundamento, das placas oceânicas sob os continentes.
Dos 540 vulcões conhecidos e activos da Terra, 348 concentram-se neste anel ardente.

Os sismos de maior intensidade estão relacionados com o mesmo fenómeno – a colisão das placas. Por consequência, os sismos e as erupções vulcânicas dão forma à paisagem de Kamchatka e sucedem-se com regularidade.

As erupções podem ser de natureza distinta, desde a efusão de lava até à chuva explosiva de cinzas, capaz de atingir várias dezenas de quilómetros de altura. Essas diversas erupções dão origem à formação de estruturas vulcânicas, rochas e minerais ígneos, e diversos gases são emanados para a atmosfera. A erupção iniciada em fins de Novembro de 2012 no vale de Tolbachik, 340 quilómetros a norte da cidade de Petropavlovsk-Kamchatsky, centro administrativo da península, chamou a atenção tanto pela sua magnitude como pelas características da sua actividade vulcânica.

Tolbachik é um complexo vulcânico formado por dois cones sobrepostos e morfologicamente bem distintos: o estratovulcão Ostry Tolbachik, de forma cónica e com 3.682 metros de altitude (em russo, ostry significa “afilado”), e o vulcão-escudo Plosky Tolbachik, com 3.085 metros de altitude e encostas suavemente inclinadas (plosky significa “plano”).

 Os cientistas classificaram esta erupção como de tipo hawaiano, durante a qual a lava basáltica, muito fluida, flui pausadamente depois de transbordar da cratera ou emerge das fissuras, sem causar grandes catástrofes. Tolbachik é caso único, pois está rodeado de um grupo de vulcões de outro tipo. Quando estes reiniciam actividade, costumam produzir erupções do tipo pliniano, com empilhamento de grandes espessuras de rochas vulcânicas, como sucede no Vesúvio ou no Fuji-Yama. De facto, todo o vale de Tolbachik está coberto por espessas camadas de escória. Há pouco mais de três décadas, entre 1975 e 1976, teve lugar a maior erupção basáltica conhecida até à data no arco insular Curilas-Kamchatka.

Baptizada como “Grande Erupção Fissural de Tolbachik”, foi um acontecimento de excepção. 

            Fonte: National Geographic