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Banco de dados geológicos – uma verdade (artigo de opinião) - Notícia OVGA 23-07-2018

 

Cartoon: Gerard Hardner

1 – Acordei com a Junta Regional dos Açores, em Dezembro de 1975, a minha vinda para São Miguel como Assistente da Faculdade de Ciências de Lisboa em Janeiro seguinte. Era então jovem e crente nos “amigos” que existiam em todas as ilhas. Com o tempo fui aprendendo a dureza dos convívios locais, as verdadeiras amizades e as mais inesperadas traições – mas houve o mérito de me apaixonar cada vez mais pelas nossas ilhas e suas raízes geológicas. Em Janeiro de 1976 tratei de contratualizar peritos, nomeadamente especializados em petrologia, hidrogeologia, geoquímica, sismologia e outros segmentos da geofísica. Eu fiquei com a direção técnica do programa geotérmico e com os sectores da tectonofísica, estratigrafia e sondagens. Após rocambolescos episódios, o 1º sucesso ocorreu em 1978 com a produção efetiva de fluidos geotérmicos controlados. Esse sucesso foi o meu 1º grande desaire, ou seja, a equipa passou de bestial a besta e colocaram-nos… em tribunal criminal (felizmente totalmente absolvidos… em 1999, ano em que já me encontrava, novamente, reintegrado na geotermia e contratado como Prof. Convidado da Universidade dos Açores).

2 - Toda a gente se lembra e há testemunhas da grande oposição que o Assistente João Luís Gaspar fez à minha reentrada no programa geotérmico com o Prof. Doutor Britaldo Rodrigues. Com os anos foi mudando, nomeadamente em 2001, quando o Prof. Monteiro da Silva quase lhe “ofereceu”, via SOGEO e GLOBALEDA, uns bons milhares de euros para reequipar o velho Centro de Vulcanologia INIC, antecessor do misterioso CVARG. A GLOBALEDA agradeceu à Universidade a encomenda de outros tantos milhares de euritos, novamente passei a besta em 2002, a geotermia passou a bestial (esquecendo o caminho de falência de 1990 via Dr. Rosa Nunes, Presidente da SOGEO) com um fluxo de consultadorias euróticas (de euros, claro) maior que as  Niagara Falls, os pioneiros foram esquecidos ou “exilados” pelas actuais administrações e Governo Regional, etc. Enfim, um trágico romance que alguém vai editar.

3 - O microrresumo anterior tem como objectivo que o Congresso Nacional de Geologia enquadrou um programa paupérrimo apesar das valiosas comunicações de alguns autores. Houve filhos e enteados. Entre os enteados realço: a) a quase ausência dos jornais locais e nacionais (apenas uma magra filmagem da RTP-A e uma notícia no Correio dos Açores, perdendo-se uma bela oportunidade para a afirmação da Geologia); b) a falta de seminários sobre temas com perigos geológicos dos Açores, abertos ao público e com a discussão das opiniões existentes; c) a eficiência das redes de vigilância sísmica e vulcânica do arquipélago. Como encontrar parcerias? Como conjugar esforços? Como não duplicar informações? Posicionamento da UA, do recente Instituto de Vulcanologia IIVA, do IPMA?; d) População e compreensão de perigos / riscos geológicos – modelos existentes e modelos a desenvolver no imediato (há muitos euritos comunitários a dar, para este tema !!!)

4 - Quantos aos filhos, a lista fica para outra oportunidade ... Contudo uma coisa desconfiada passou a certa com o Congresso Nacional de Geologia, ou seja, era justificável o Instituto de Geociências dos Açores (IGA) criado em 1976 e gradualmente extinto. Porque seria os serviços geológicos dos Açores, tinha gente competente e imaginativa, que teria recolhido, ao longo dos anos, o que se sabe sobre estas ilhas e seus mares longínquos. Não se passaria o que presentemente ocorre, ou seja, salvo o sector de pedreiras governamental (que funciona bem mas deveria ser mais abrangente) cada um trabalha como quer. Uns dados geológicos estão no LNEG (Laboratório Nacional de Geologia), outros na EMPEC (Estrut. Missão Plataforma), outros no DOP da Horta, outros na Terceira, outros em São Miguel, muitos no estrangeiro. Para quando um verdadeiro banco de dados geológicos Açores—Continente, liderado por ambas as partes? Para quando uma análise desapaixonada dos bens geológicos terrestres e submarinos? O Congresso passou o tema pela rama, o que é lastimável – a empresa estrangeira que o organizou é pouco pensante. O que fazem os deputados? Julgam que o mar é apenas para banhocas e peixaria? Acordem da mornaça, esclareçam-se e sejam mais activos!!!

OPINIÃO 22-JULHO-2018 Victor Hugo Forjaz – Catedrático, Vulcanologia Engª