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Águas Duvidosas – texto de opinião de Victor Hugo Forjaz, Catedrático de Vulcanologia - Notícia OVGA 08-02-2019

 

1 – Toda a gente sabe que existe nos Açores uma escandalosa importação de águas lisas e mineralizadas. Como as águas camarárias são de razoável ou de boa qualidade, executando-se análises químicas periódicas, não se justifica a maciça vinda de garrafas de vidro ou de plástico que inundam todo o território, desde as praias à mais recôndita grota. Mas como é mais  fácil deixar indo, o atentado ( ou a anomalia, como cada um o queira) aumenta de ano para ano. Beber água da torneira é sádio e bem mais barato .

 

2 – Ressalvo o caso das águas mineromedicinais (no geral gasosas / gasificadas e erradamente etiquetadas pela própria universidade indígena como “ gaseificadas “) que auxiliam as refeições e/ou o bem estar geral (caso da Vidago, da Serra de Trigo agora Magnificat, Bensaúde agora Frize , Lombadas (um misterioso  e silencioso investimento), etc. - As respectivas taras deveriam seguir outro destino mas tal tema constará de outro artigo ).

Apesar de tudo e embora as embalagens em plástico sejam vulgares mas perigosas após demorada exposição solar, a situação  tem se arrastado sem males, por enquanto, críticos.

 

3 – Contudo as coisas, subtilmente, mudaram, ou seja, existe agora a venda de água “del cano”, da torneira mais próxima, muito ou pouco gasificada, conforme a forretice do vendedor. O produto é apresentado em elegante  garrafa  tipificada ( ostenta o logotipo do restaurante ), não está selado, não indica a composição do artigo, tem muitas ou poucas bolhinhas (o tal índice de forretice) e sabe a alkaseltzer fora de prazo, embora não mortífero.

Verdade seja que nunca me negaram um copinho de água da torneira, à minha vista, com mais ou menos cloro, conforme a prudência do aguieiro municipal da zona.

 

4 – O negócio tem os seus lucros  -  evita as  estafantes entradas e as  saídas de caixas de água do exterior, permite maior arrumação de espaços e o cliente tem sempre a escolha de vinhaças ou de cervejaria. Além disso os restos de água são sempre aproveitados  e não existe qualquer controlo.

O negócio é imaginativo, ou seja, aluga-se uma ou mais bilhas de gás (enchidas  sei lá onde)e uma máquina encarrega-se de injectar a massa gasosa na água camarária. Vi algumas dessas novidades, cromadas, reluzentes. Os frascos, vendidos como complemento, são “personalizados” como se a bebida fosse do estabelecimento. A  casa paga uma mensalidade ao inventor ou intermediário  (mais do que  220 euros mensais) e  ainda ninguém me conseguiu mostrar a composição do tal voluptuoso  gás  (se veio do continente, da doca ou do puro Pinhal da Paz).

 

5 – Apenas opino que se trata de mais uma machadada nas nossas águas que não pode ser ESCONDIDA  por se tratar da água verdadeira “del cano” mascarada com uma imaginativa manobra de “charme“ altamente lucrativo. Bons os tempos em que a bela Praça do Rossio de Lisboa era dominada por um artístico anúncio a néon das Águas das Lombadas, estas concorrendo com boas águas continentais e francesas. Alguém bem conhecido as comprou e as mandou fechar. Mexendo em trabalho resumido que estou redigindo, encontrei a  análise da  magnífica Água da Serreta mandada fazer em 1901,  antes do  Rei D. Carlos a saborear. Lá está, na garrafinha > – água  acídula , gasocarbónica, carbonetada cálcica  e magnésica!!!!! Sem análise e proveniência Senhor Rei não beberia .

VICTOR HUGO FORJAZ , Fev. 2019

 

Tem em anexo o rótulo da SERRETA, muito raro.